quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Paraty tem pressa de futuro para preservar seu passado histórico


A Prefeitura de Paraty pleiteia à UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) seu reconhecimento como patrimônio da humanidade. Para isso, a agência da ONU exige um forte investimento em educação e infra-estrutura, inclusive de comunicações. Mas, para não modificar o conjunto arquitetônico, não é possível instalar fiação nem cabos subterrâneos, que exigiriam obras e escavações em terreno tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) desde 1958. A tecnologia wireless foi a solução encontrada pela administração municipal para conectar a cidade sem danificar sua riqueza histórica.


A cidade de Paraty, no litoral sul do Rio de Janeiro, conseguiu preservar seu centro histórico porque, durante quase cem anos, parou no tempo. O isolamentodevido ao difícil acesso manteve o casario dos séculos XVIII e XIX praticamente intacto, em ruas onde veículos não podem circular. Mas agora o município corre para aderir às novas tecnologias e conectar-se, justamente para manter o que conquistou. Muito antiga para os padrões brasileiros, a cidade foi povoada entre1533 e 1560, em 1667 teve sua emancipação política decretada pelo rei de Portugal, tornando-se uma vila independente de Angra dos Reis. Junto ao oceano, entre dois rios, Paraty está a uma altitude média de apenas 5 metros. Hoje é o centro de um município com 930,7 km² com uma população de 33.062 habitantes (densidade demográfica: 35,6 h/km²). A cidade já foi sede do mais importante porto exportador de ouro do Brasil, durante o período colonial. O longo processo de estagnação vivida por Paraty manteve, paradoxalmente, o casario colonial, conservado no conjunto conhecido como Centro Histórico, tornando a cidade num dos destinos turísticos mais procurados do país.

A demanda da pequena cidade na divisa do Rio de Janeiro com São Paulo casou bem com o que procurava a NextWave, empresa americana que já nasceu gigante, em 2005, e se instalou no Brasil no ano passado. Operando como fornecedora de tecnologia de banda larga móvel, a companhia viu no projeto Paraty Digital uma excelente oportunidade para construir uma vitrine no País.

“O projeto foi financiado pela NextWave como um piloto para apresentar ao mercado as inovações tecnológicas desenvolvidas dentro da empresa e já em uso em diversos países do mundo”, explica o diretor de Wireless Mesh LatinAmerica da empresa, Bruno Evangelista.


Uma rede de parcerias



O começo foi em janeiro de 2007, por iniciativa da Prefeitura. Além da NextWave,

uniram-se na parceria o Proderj, centro de tecnologia do governo fluminense, a VeriSign e a brasileira SRVR -Serviços de Rede Via Rádio, esta última com a função de integrar os equipamentos e operar os serviços depois de a rede estar pronta. A SRVR também assumiu a manutenção da rede e será responsável pela futura expansão.


Segundo Evangelista, a NextWave entregou a montagem da rede como doação ao município, e a SRVR fornecerá suporte de rede e sinal de banda larga sem fio gratuitamente aos órgãos públicos e escolas municipais. Em contrapartida, diz ele, poderá explorar comercialmente os serviços baseados no acesso à banda larga sem fio fornecidos aos habitantes e turistas.

A inauguração da rede ocorreu durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), em julho de 2007. Pela primeira vez, os participantes do evento anual – que atrai centenas de visitantes estrangeiros e é o maior do município em visibilidade – tiveram à disposição

um quiosque com acesso wireless à internet. A disponibilidade de conexão sem fio também facilita a cobertura pela imprensa, em âmbito nacional e internacional, eis que os jornalistas podem enviar informações em tempo real para seus veículos.

A NextWave optou por usar a tecnologia Wi-Mesh xRF, de desenvolvimento próprio e que, segundo a empresa, é ideal para uso em áreas urbanas. O suporte à rede é feito remotamente, 24 horas por dia, a partir do centro de operações de redes globais da matriz, localizado no estado de Nevada, nos Estados Unidos.

“A NextWave possui um centro de pesquisa e desenvolvimento em Israel, onde desenvolveu

uma tecnologia pioneira em soluções Wi-Fi. Essa tecnologia usa uma combinação de várias antenas inteligentes com um processador interno, e permite canalizar toda a potência de transmissão na melhor direção para o dispositivo requisitante,

não importa qual: notebook, computador, CPE ou telefone móvel”, diz Bruno Evangelista. “Esse cálculo de nosso produto é feito a cada novo envio de pacote na rede, e não é necessário nenhum hardware ou software adicional”, acrescenta.


Segundo ele, o sistema obtém ganhos muito significativos em performance, cobertura e redução de interferência – além, é claro, de manter intocados os sobrados e paralelepípedos bicentenários de Paraty.

Em prol do turismo

Palavra do prefeito

“Esperamos poder prestar melhor serviço aos cidadãos e incrementar o turismo, nossa principal atividade econômica.”

José Carlos Porto Neto

Durante o ciclo do ouro, no século XVIII, a cidade era o principal porto de exportação do Brasil, escoando a produção que vinha das Minas Gerais. Mas, desde que foi aberta a primeira rodovia entre Rio de Janeiro e São Paulo, o caminho do ouro ficou fechado e a cidade parou no tempo, conservando as casas e igrejas de arquitetura colonial. Desde então, o único “ouro” em Paraty é o que advém basicamente da receita com o turismo. Por isso, o financiamento foi feito pela empresas participantes, poupando os recursos da prefeitura.

“O custo total do projeto é difícil de ser estimado, pois tivemos várias partes envolvidas. A NextWave investiu em torno de R$ 150 mil em equipamentos, treinamento e implementação da solução. Foram utilizados 13 equipamentos para uma cobertura de 16 quilômetros quadrados em torno do centro da cidade de Paraty”, diz Evangelista.

Desde então, os cerca de 33 mil habitantes têm pontos de acesso em banda larga à internet em quatro escolas municipais e em breve terão serviço de VoiP. Também foi possível interligar a prefeitura, a câmara, as secretarias, todos os prédios administrativos e outros órgãos municipais em uma intranet Além disso, a banda larga ajuda a reduzir custos de comunicação com outros centros urbanos, como Rio de Janeiro e São Paulo.

De acordo com o prefeito, José Carlos Porto Neto, o projeto de inclusão digital é de grande importância para melhorar a economia e o padrão de vida da população, e isto já é percebido pelos paratienses.

“A implantação da rede de banda larga sem fio nos ajudará a reduzir diversos custos devidos à nossa localização distante de grandes centros urbanos. A população terá acesso gratuito ao sinal, e poderá acessar conteúdos e serviços disponíveis na internet e usar serviços de comunicação por voz gratuitos. O acesso foi estendido às escolas municipais, visando melhorar a qualidade do ensino”, explica Porto Neto.

“Prevemos a instalação de câmeras de segurança nos principais pontos da cidade, principalmente no centro histórico e nas vias com maior fluxo de pessoas, que enviarão os sinais pela rede sem fio diretamente à delegacia”, acrescenta.

Por enquanto, o projeto concentra-se na área urbana do município, onde os serviços prestados à comunidade são acesso livre à banda larga em escolas, centros de internet comunitária e órgãos públicos, permitindo conexão à internet, comunicação (voz) e segurança com o uso de câmeras sem fio. A prefeitura e os parceiros também estudam a implementação do programa “Telefonia Social”, que visa fornecer telefone de baixo custo às camadas D e E da população paratiense.

“Com este projeto, atendemos cerca de 2.000 pessoas. E é apenas o começo. A cada dia que passa, a cidade conhece um pouco mais os benefícios que essa rede metropolitana sem fio pode proporcionar”, conclui Evangelista.


Faculdade de Filosofia Santa Dorotea

Pós Graduação em Planejamento Urbano Ambiental

Tania Maria Verneck Sanglard

Nenhum comentário:

Postar um comentário